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Eusébio +10: 4-4-2, 4-2-3-1, 4-3-3, 3-4-1-2 ???

terça-feira, 8 de agosto de 2006

4-4-2, 4-2-3-1, 4-3-3, 3-4-1-2 ???

Uma leitura interessante na Bola da quinta feira passada:

Um plantel feito à medida do 3x4x1x2

Fernando Santos tem cinco dias para preparar a nova táctica que vai aplicar no Ernst Happel Stadion, em Viena de Áustria, na primeira mão da terceira pré-eliminatória da Champions League. Depois de várias experiências falhadas com o meio-campo em losango, que caminho deve seguir o treinador do Benfica? É que, perante a composição do plantel de 2006/07, não se afigura muito viável o retorno ao 4x2x3x1 e mesmo o 4x3x3 levanta muitas dúvidas. A hora parece ser da opção pelo 3x4x1x2…

Porque falhou o losango

Muitas das melhores equipas do Mundo jogam em 4x4x2 com as unidades do meio-campo dispostas em losango. A Itália, recente campeã do Mundo, usou esse sistema na Alemanha (Gattuso, Camoranesi, Perrota e Pirlo), o AC Milan (Pirlo, Gattuso, Seedorf, Kaká) não prescinde dele, foi assim que o FC Porto de Mourinho (Costinha, Alenichev, Maniche e Deco) chegou onde chegou e o Sporting atingiu a final da Taça UEFA (Custódio, Rochemback, Barbosa e Moutinho). Portanto, o sistema que Fernando Santos tentou implementar no Benfica não tem nada de mal. Apenas requer —e isso não há, na Luz — tempo para ser absorvido pelos jogadores; além de que os encarnados necessitariam ainda de mais alguns retoques no plantel…
Que defeitos foram identificados na movimentação benfiquista nas últimas três derrotas? A nível defensivo, sendo que os centrais dos encarnados não são particularmente dotados a contrariar acções de um-contra-um, notou-se escassa protecção por parte do meio-campo, onde apenas um trinco se mostrou insuficiente para suster o caudal ofensivo contrário. Como Rui Costa defende pouco e Karagounis se esquece, muitas vezes, da função que está a desempenhar, as despesas defensivas ficavam aos ombros de Petit, mais pela direita e Katsouranis, desapoiadíssimo, começando aí o naufrágio da nau benfiquista. Antes de ser ineficaz no ataque, a equipa de Fernando Santos mostrou-se vulnerável a defender, pecado mortal, nos dias que correm, para quem tem ambições a tocar no céu.
No âmbito ofensivo, o Benfica acabou por ser quase inexistente. A circulação de bola deixou sempre muito a desejar e não foram criadas condições para que Rui Costa pudesse explanar o seu futebol. Ou seja, o sistema encarnado, de enorme exigência e complexidade, estava ainda a anos-luz de ser dado como pronto. Pragmático, Fernando Santos reconheceu a necessidade de mudar. Resta saber que via vai escolher…

Porque não é aconselhável o 4x2x3x1

O Benfica, especialmente com José Antonio Camacho e Giovanni Trapattoni, foi muito feliz em 4x2x3x1, um sistema mais simples, que permite uma ocupação harmoniosa dos espaços, criando uma boa relação entre a fase defensiva e a fase ofensiva. Porém, o Benfica de Fernando Santos não foi desenhado a pensar nesta solução e as carências são flagrantes. Imaginemos que esta fórmula vai ser adoptada pelo técnico encarnado na próxima terça-feira, em casa do Áustria Viena. O duplo pivot terá como protagonistas Katsouranis e Petit, o playmaker será Rui Costa e Nuno Gomes surgirá como ponta-de-lança. E nas alas — sem Simão e Geovanni — quem joga? Manu e Paulo Sérgio? Ou Léo é deslocado de defesa para médio, fazendo o ataque pela esquerda? E dos cinco avançados disponíveis (Nuno Gomes, Miccoli, Kikin Fonseca, Mantorras e Marcel), o Benfica vai optar por um sistema que apenas contempla a utilização de um deles? Perante o plantel encarnado, a opção pelo 4x2x3x1 não parece ser aquela que melhor rendimento tira dos efectivos disponíveis.

Os perigos do 4x3x3

Fernando Santos jogou, durante muitos anos em 4x3x3, o mais equilibrado dos sistemas, um clássico com 40 anos de resultados satisfatórios. Se o engenheiro se decidir por esta fórmula — usada por Koeman em fases decisivas da campanha europeia do ano passado — uma questão se levanta: Rui Costa faz parte do três de meio-campo ou do trio de ataque? Se o fantasista encarnado for englobado no pacote dos médios, os riscos de coesão defensiva aumentam muito. Aí, a equipa poderia apresentar Petit, Katsouranis e Rui Costa, deixando o ataque para Nuno Gomes, Fonseca e Miccoli. Os riscos defensivos, nomeadamente ao nível das alas, por falta de acompanhamento dos laterais adversários, seriam tremendos. Se Rui Costa for metido no rol dos atacantes, jogando como falso ponta-de-lança nas costas de dois avançados mais abertos, o equilíbrio defensivo passa a ser maior. No entanto, num meio-campo que contasse com Petit e Karagounis, continuaria a faltar um interior esquerdo de raiz, lacuna evidente neste plantel. Nuno Assis pode fazer o lugar, Manduca também. Mas seriam sempre adaptações…

A boa solução do 3x4x1x2

O técnico do Benfica tem uma excelente solução, que potencia as virtudes do plantel, à disposição, sem que precise de fazer o pino no bico da águia para efectivar a sua implementação: 3x4x1x2.
Ronald Koeman fez algumas abordagens a este modelo, mas acabou sempre enredado em várias trapalhadas que ajudou a promover. O mesmo não tem de acontecer com Fernando Santos.
Mas vamos por partes, começando pela defesa. O Benfica dispõe de centrais de grande categoria, quando devidamente enquadrados. Anderson, pela direita, Luisão, ao centro e Ricardo Rocha, na esquerda, podem constituir um bloco sólido, capaz de travar as iniciativas dos pontas-de-lança adversários. Precisam, contudo, para que o seu funcionamento não conheça sobressaltos, de dois tipos de ajuda. A primeira, é fornecida pelos médios-ala, que devem estar permanentemente disponíveis para actuar como laterais; a segunda pelo homem do duplo pivot que tenha funções mais defensivas, alguém com uma leitura táctica que lhe permita, a qualquer momento, passar a actuar como mais um central. Cumpridas estas duas premissas, o Benfica terá um bloco de grande solidez na protecção às suas redes, aliviando a pressão sobre os guarda-redes, que nesta pré-temporada têm sido verdadeiramente lançados às feras.
E quem devem ser os quatro homens de meio-campo? O Benfica tem a felicidade de possuir no plantel dois jogadores que são capazes de fazer todo o corredor, Nélson na direita e Léo na esquerda. Um e outro, além de patentearem uma disponibilidade absoluta ao longo dos 90 minutos, sabem chegar à linha de fundo e cruzar e estão como peixe na água na hora de defender. Ou seja, numa lógica de três defesas, o Benfica tem quem seja capaz de criar, nas alas, as compensações necessárias a um bom equilíbrio. Os restantes elementos do meio-campo, a fazerem o duplo pivot na cabeça da área seriam Petit e Katsouranis. Os internacionais português e grego parecem condenados a entenderem-se: são tacticamente muito bons, não viram a cara à luta, procuram com facilidade a meia-distância e tratam a bola por tu. Precisam, obviamente, de criar entrosamento, mas até esse factor fundamental pode ser alcançado em pouco tempo, dados os sinais de compatibilidade amplamente perceptíveis.
Com Petit e Katsouranis à frente de Anderson, Luisão e Ricardo Rocha, e Nélson e Léo a fazerem os corredores, o Benfica terá criada a base defensiva que sustente um ataque eficaz. E Rui Costa beneficiará muito dessa circunstância.
O número 10 dos encarnados sabe tudo. Sabe quando defender — e se não o soubesse não tinha chegado onde chegou em Itália — e sabe quando deve resguardar-se para não prejudicar a missão de criação de jogo em que realmente faz a diferença. É capaz de orientar a equipa, marcando os ritmos, desde que esta apresente padrões mínimos de organização. E precisa de ter à sua frente não um mas sim dois avançados, por forma a ganhar espaço para aplicar a arte que Deus lhe deu. Numa lógica de 3x4x1x2, Rui Costa ressuscita e vê criadas condições para levar o Benfica, com qualidade, para o ataque.
Finalmente, o ataque. O plantel encarnado possui cinco opções (Nuno Gomes, Miccoli, Kikin Fonseca, Mantorras e Marcel) pelo que Fernando Santos bem pode optar por um sistema que dê uso a duas delas. Municiados por Rui Costa, no último terço do campo, ocorrendo a diagonais longas dos defesas ou dos médios centrais e apoiados na alas por Nélson e Léo, que chegam com facilidade à linha de fundo, aos avançados, com Nuno Gomes e Miccoli ou Kikin Fonseca na primeira linha de opções, não faltará jogo ao longo dos 90 minutos, podendo assim justificar a aura de goleadores.
Em conclusão, nesta fase em que o técnico encarnado vai fazer agulha para um novo sistema, o 3x4x1x2, face ao potencial do plantel, parece ser a melhor opção. Fernando Santos tem agora a palavra…

1 comentário:

Nuno disse...

Eu tinha visto esta coisa na Bola. Mas continua a parecer-me que tanto a Itália que ganhou agora o campeonato como os bimbos do Mourinho tinham a meio-campo uma coisa mais a dar para o triângulo do que para o losango: médio só-defensivo (Costinha, Gattuso), médio-que-defende-mas-que-sabe-atacar (Pirlo, Maniche) ao lado, e médio-que-ataca-e-está-dispensado-de-defender mais à frente (Deco, Totti). Que é mais o menos o que o Camacho implementou quando pôs o Tiago (e depois o Manelélé) a jogar ao lado do Petit, atrás do Nuno Gomes, que como não havia ponta-de-lanca tinha que fazer ao mesmo tempo de Schevchenko e de Totti/Kaká, resultando isso que fez sobretudo de Micolli (lesionado a maior parte do tempo), ou então jogava na base do atrás do traidorzeco-que-até-se-lixou-porque-está-podre Sokota.
Mas isto posso ser só eu a embirrar. Aliás, eu sou muito pragmático nestas coisas: a minha táctica preferida é o 1-10, com a malta a ganhar 36-0 no fim. O resto, tudo depende da imaginacão dos jornalistas. Vai uma aposta que a equipa de hoje vai aparecer amanhã nuns jornais como tendo sido 4-4-1-1, noutros como 4-2-2-2, noutros ainda como 4-3-3 e alternativamente como 4-4-2, 4-2-3-1 e até 4-2-1-2-1 ou 4-2-1-3?
A melhor táctica é a das equipas do Mourinho: 8-8-4, porque parece que estão sempre dois gajos ao pé da bola...