Champions what?

Ja' ouco muita gente a falar da Liga dos Campeoes como se nem sequer tivessemos que jogar e fosse so' fazer uma viagem turistica em Maio para o Luisao levantar o caneco.
Isto e' assustador. Por varias razoes, a primeira das quais e' que uma das pessoas que fala nisso periodicamente e' George Geesus himself.
Eu ate' posso perceber uma afirmacao destas num contexto de "nao temos medo de ninguem". So' que em competicoes contra equipas a serio (versus competicoes contra 15 satelites do Porto) as coisas nao funcionam assim. Raramente quem ganha a Liga dos Campeoes tem essa competicao como objectivo numero um, e sobretudo ainda mais raramente tem esse objectivo numero um e o propaga aos sete ventos. Lembro-me, pelo contrario, de uma mao-cheia de equipas que ja' eram campeas europeias antes mesmo dos sorteios, e depois sairam algures entre os oitavos e os quartos-de-final, eliminados por Monacos, Desportivos das Corunhas, Villasreais e outros colossos afins.
Compreendo perfeitamente que George Geesus se ache com capacidades para vencer a Liga dos Campeoes. E tambem compreendo que tendo alguem com as suas capacidades passado 95% da sua carreira de treinador a treinar Belenenses e Felgueiras e Leirias e Moreirenses, e finalmente chegado a um clube que lhe da' margem de manobra para mostrar o seu talento, esteja impaciente para chegar la' quanto possivel. Eu passei por isso (sem estar a insinuar que tenho capacidades na minha area de trabalho ao nivel das que George Geesus tem na dele!) quando andei anos a aturar um sistema educativo podre, laboratorios sem equipamento e pseudo-cientistas ignorantes e incompetentes, e depois tive a oportunidade de ir trabalhar para um laboratorio equipado e serio, num instituto de investigacao a serio. Da' uma certa vontade de nao parar, de ir por ali fora como se para tocar no ceu faltasse so' um bocadinho assim que qualquer Danoninho pudesse colmatar. Imaginem como se sente agora o Joao Moutinho, anos a jogar para ir 'a UEFA, e agora esta' num clube que ate' ganha coisas. O gajo acha-se pelo menos seis Pirlos, trinta e sete Kakas e dezanove Cantonas. Ou o estado em que ficou a Micaela em Janeiro quando fez uma mudanca de clube semelhante 'a que o Joao Moutinho operou agora. Mas chega de exemplos, ate' porque ja' se percebeu o que quero dizer e nao me apetece falar de jogadores dos bimbos.
O ceu nao esta' ja' ali. Esta' la' muito acima. Sim, podemos la' chegar. Mas eu nao quero que cheguemos ao ceu com escadas de madeira atadas nas pontas umas 'as outras.




Eu sei que na mentalidade portuguinha e' assim que funciona. "Ah e tal, nos temos a maior arvore de Natal da Europa, e o maior centro comercial da peninsula Iberica, e somos gajos para chegar la' e fazer isto e aquilo e arrumar os gajos todos que eles ate' ficam sem saber de que terra sao." Mas a mentalidade portuguinha nunca foi a lado nenhum, por isso fala assim da Catedra das Coisas que Nao Acontecem, e quando vai a algum lugar faz aquele figurao apatetado de malta que vai la' sem qualquer tipo de preparacao, atira-se ao barulho como se estivesse tudo controlado, e depois fica a ver o "azar" materializar-se com um esgar-meio-sorriso que traduz na perfeicao "Eh pa', ia sendo, foi um azar do caracas...".
Quando se trabalha a serio - e eu nem por um segundo ouso sugerir que George Geesus nao trabalha a serio, todos os dados sao no sentido de ele ser incansavel, competentissimo, eficiente - nao se canta de galo. 'As vezes, antes de um jogo importante, faz-se um bocadinho de musculo para intimidar o adversario (o Bayern de Munique, pelos seus lendarios Beckenbauer e Rummenigge - nao sei se esta' bem escrito o segundo - e' eximio nisto). Mas e' musculo, nao e' cauda de pavao. E no dia do jogo o adversario sabe que esta' la' o musculo porque leva com ele. Ja' o dar a cauda de pavao ao adversario nao costuma ter efeitos positivos.

E' por isso que nao quero escadas de madeira, nem andaimes. Quero betao, betao armado. Quero alicerces 'a prova de terramoto, 'a prova de cataclismo, de bomba nuclear. Quero alicerces enterrados bem fundo, para que nada os abane. Ou como o Joao costuma por a coisa, depois de sermos dodecacampeoes. Ai', vamos 'a Liga dos Campeoes, e ganha-la cinco vezes seguidas para calar aqueles pavoes do Real de Madride.

Enfim, indo agora directo 'a mensagem, que o post ja' vai longo e o manuscrito esta' 'a espera de ser acabado: tal como o ano passado, este ano ha' 90 pontos em jogo no campeonato. O ano passado, antes de comecar, eu pedi 75. Tivemos mais que isso. Este ano, peco 78. Se fizermos 78 pontos, considero-me satisfeito. Fiquemos ou nao em primeiro. Se com 78 pontos nao formos campeoes, nao perdemos o campeonato, foram outros que o ganharam. Se com 60 pontos formos campeoes, fizemos uma epoca falhada.
Este e' o objectivo para a presente epoca: 78 pontos. A Liga dos Campeoes e' uma coisa 'a parte. "Coisa 'a parte" significa que fazemos a fase de grupos sem fazer ondas, jogamos as eliminatorias sem por em risco o campeonato, e, eventualmente, se estivermos com 15 pontos de vantagem 'a 24a jornada, entao podemos dedicar mais atencao a essa competicao. Ate' la', vai ter que ser considerada nao-urgente e nao-prioritaria. E quando mais depressa George Geesus e a cupula espalharem este discurso, melhor. Sob pena de irmos jogar a fase de grupos ja' com o campeonato comprometido e dentro de uma panela de pressao tao grande que nem ao Bordeus ganhamos...

P.S.: Bem falado por LFV, os campeoes nao ganham so' uma vez. Portanto, se faz favor, mantenha os labios coladinhos e toca a trabalhar para reforcar os elos mais fracos do plantel. Se tiver duvidas quais sao, pergunte ao Rui Costa e a George Geesus, ou veja o jogo da supertaca. Esta' la' bem claro.


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