segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Ensaio sobre a biologia do lagarto
"O lagarto e' um animal. Um animal rastejante e com gosma." Para isto, bastava um puto da segunda classe. Ora eu ja' fiz a segunda classe ha um camadao de tempo, portanto sempre fui aprendendo mais umas cenas. Resolvi por isso dissertar sobre a biologia do lagarto, particularmente focado sobre uma nova especie que anda agora a ser estudada cientificamente, o Esverdeadus parvus, ao qual me referirei como "parvus" para poupar espaco e tempo e paciencia e energia e tudo e tudo e tudo.
O parvus e' um animal rastejante. Rasteja por nao conseguir andar e nao conseguir voar e nao conseguir nadar, mas esta' convencido que rasteja porque rastejar e' in. Na verdade, o parvus esta convencido de muita coisa, a principal das quais que e' muito importante porque um dia, ha muitos ramos da arvore genealogica da evolucao, teve um tio que era um iguana. Apesar de nao ser mais do que um vulgar reptil, o parvus acha-se o maior. Por exemplo, julga-se infinitamente superior a outro bicho que rasteja e tem gosma, o caracol, ignorando propositadamente o facto de o caracol constituir um fantastico petisco nacional, enquanto que ninguem nunca se lembrou de comer lagarto, e muito menos parvus, porque aquilo tem todo o ar de ser absolutamente incomestivel.
Esta e' outra caracteristica fundamental da biologia do parvus - so' repara no que lhe interessa. E' mais um dos aspectos em que o parvus se assemelha bastante ao Luis Delgado.
O parvus e' invertebrado. O que lhe e' bastante util pela seguinte razao: para se tentar auto-promover relativamente aos outros animais rastejantes, o parvus gosta de fazer discursos cheios de pompa; o problema e' que lhe faltam os neuronios e por conseguinte o discurso putativamete pomposo resulta sempre numa grandiloquente asneira, em que o parvus tem que dar varias voltas sobre si proprio para conseguir chegar ao fim do palavreado - a fisionomia escrregadia permite-lhe conseguir tal sem dar tres nos cegos sobre si proprio.
Curiosamente, o parvus acha-se especialmente educado, chegando a discutir filosofia do conhecimento com outros animais reputadamente intelectuais. (No fundo, o parvus aspira a tal, e ignora deliberadamente que ninguem lhe liga nenhuma, mas continua a fazer de conta que o tomam a serio quando discutem a influencia do imperio persa na filosofia dos sofistas.)
O parvus tem problemas de identidade. Nao sabe bem quem e', e recusa-se a catalogar-se por comparacao com as restantes especies de lagartos, porque insiste em julgar-se uma especie superior. Por essa razao, o parvus adquire comportamentos de outros animais que ocupam posicoes superiores na arvore evolutiva. O parvus tem a obsessao de um dia poder voar, e como reparou que nao consegue, passou a odiar todas as aves. O ultimo exemplo documentado e' o de um exemplar parvus que assumiu comportamentos de pavao e ficou especialmente irritado quando o confundiram com uma galinha.
A hierarquia do ecossistema do parvus e' absolutamente excepcional. Enquanto que os outros animais se agrupam em torno do mais forte e capaz, que os lidera, os parvus movimentam-se em grupo sem lider definido, aparentemente porque nao ha nenhum parvus que seja suficientemente capaz, ou possivelmente porque cada parvus se acha superior aos restantes elementos da mesma especie. Este e' um enigma que aguarda resolucao.
Alem de ser absolutamente desprezivel do ponto de vista visual, o parvus tem funcoes indefinidas - ainda nao se descobriu se o parvus faz alguma coisa de util. Admite-se a possibilidade de ser utilizado apenas como intermediario na cadeia alimentar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
alias, nunca ninguem se deu ao trabalho de fazer um estudo de functional genomics do parvus por razoes obvias...
:)
De facto... o metabolismo destes gajos deve estar cheio de putrescina...
solicitava aos meus colegas bioinformaticos uma analise profunda aquela sub especie do esverdeadus parvus, o rarissimo e asqueroso esverdeadus diasferrericus nujentis.
entretanto, e para colocar um ponto final no jogo do passado fim de semana e nas pateticas insinuacoes dos especiais, aqui vai uma prosa do bolanaarea.blogspot.com (um dragao camuflado que normalmente se pela para dizer mal do benfica):
"Mais uma vez ficou provado que esta história dos paineleiros afectos a determinadas cores futebolísticas só contribui para criar mais confusão. Ainda a propósito do último Benfica-Sporting, os iluminados do costume conseguem distorcer a realidade com um descaramento que até dói mas que pelos vistos rende em termos de audiências, pelo seu folclore, tal como acontece em qualquer reality show. O que aconteceu na Luz conta-se em poucas linhas: há um erro de avaliação do árbitro assistente Gavínio Evarista que o árbitro, muito bem, não valida; há um lance muito duvidoso com Romagnoli na área do Benfica e outro susceptível de merecer a marcação de uma grande penalidade na área do Sporting (já perto do fim). Parece que as torres gémeas foram de novo atingidas quando, no fundo, quer Benfica, quer Sporting fizeram pouco para ganhar um jogo que não podiam empatar. É esta realidade que mais uma vez é barbaramente escamoteada, sacudindo-se para os árbitros todos o odioso."
PS - se os lagartos estao tao incomodados com as arbitragens, talvez devessem ter aproveitado a unica ocasiao em que foram de facto roubados para fazer barulho. no estadio do cavalo marinho, pois claro.
Enviar um comentário