origem
Eusébio +10: para os moralistas do costume

terça-feira, 14 de novembro de 2006

para os moralistas do costume


Ha falta de algo mais excitante (a bola nao rola) a imprensa desportiva deu finalmente voz as queixas do Mantorras referentes a algo q se passou ha mais de duas semanas. Ja era altura de alguem acordar para os problemas de racismo q infestam o futebol portugues.

Primeiro, nesta questao do racismo todos temos telhados de vidro. o racismo esta presente na nossa sociedade, em todos os estadios e dentro de cada um de nos.

Na velha catedral, nos meus anos de cativo, tive a sorte de ter muitas vezes ao meu lado um grande amigo e benfiquista natural de angola. Nao foram poucas as vezes q assisti (revoltado) ao estadio da luz em peso a insultar um Yekini ou um Aniki Bobo.

Alguns dos casos de racismo mais mediaticos envolvem um grande numero de adeptos presentes no estadio, sobretudo de faccoes vagamente politizadas como os Ultra Romanos. Para estes nao devia haver perdao. Receita da bilheteira oferecida ao jogador atacado e estadio fechado na proxima jornada. Resolvia-se a questao rapidamente.

O principal problema, o q nos deve preocupar enquanto membros desta sociedade, sao os casos isolados de atrasados mentais q acham graca aos sons de macaco. Tipicamente sao o portuguesinho que nao se acha racista mas que partia as trombas 'a filha se esta aparecesse em casa com um negro. Para lidar com estes anormais q acham o Mantorras branco e o McArthy preto, temos de ser nos os adeptos a actuar. Quando calham sentar-se ao meu lado costumo olha-los olhos-nos-olhos (passe a redundancia) com um ar curioso, ate perceberem o ridiculo q sao. Funciona, nem e' preciso dizer nada... normalmente calam-se rapidamente com um ar envergonhado. Se estivermos na presenca de um ser mais primitivo q ira responder ao olhar com um "tas a olhar para que?", podemos responder "aparentemente para um macaco". eles ficam furiosas e normalmente nao se calam, mas quando vier a segunda onda de insultos normalmente ja nao participam e vao certamente para casa com qualquer coisa para pensar.

Vejo com bons olhos o facto de haver um crescente movimento benfiquista que repudia as ofensas aos clubes adversarios. E' uma reaccao normal ao facto dos nossos rivais terem mais canticos dedicados ao benfica do que ao seu proprio clube. Nos somos grandes e os outros clubes sao coisa q nos preocupa muito pouco. Seria bom q esse movimento se extendesse 'a questao do racismo.

Gostava que a direccao do Benfica tambem promovesse este movimento e fizesse passar nos paines do estadio mensagens q promovam a grandeza do Benfica, os feitos dos seus atletas negros, e um apelo a uma conduta por parte dos adeptos ao nivel dos pergaminhos do clube.


O racismo e' um flagelo presente em todos os estadios, da Luz ao Dragao. Se outros clubes preferem mostrar indignacao e uma suposta superioridade moral atraves de comunicados pateticos, problema deles. E' algo a q ja estamos habituados. O q a mim me preocupa e' q os atletas do Benfica e os seus adversarios sejam respeitados pelos benfiquistas, e q o Mantorras espete dois ao Baia na proxima visita 'a Catedral

«Fico zangado, porque também me estão a desrespeitar. Eu não sou diferente do Drogba ou de outro jogador negro, por isso ao fazerem aquele tipo de sons também me estão a afectar, porque eu não sou branco. Para mim, são apenas pessoas estúpidas, mas se isto continuar a crescer pode ficar incontrolável, por isso há que evitá-lo».
McCarthy, Dezembro de 2004, apos visita do Marselha ao Dragao.

1 comentário:

Diogo disse...

Concordo plenamente Joao.

Eu, felizmente, fui ensinado a respeitar a pessoa como ser humano. Independentemente de cor, religiao ou outra qualquer arma fascizoide.

O racismo, infelizmente, e' sempre tratado em Portugal como um grande tabu. Nao se pode admitir que e' porque o campeonato parou que as preces do Mantorras sao ouvidas. Nao se pode admitir que um jogador, seja ele angolano, mocambicano, queniano, russo, brasileiro ou mexicano seja insultado por bestas que faziam melhor em dar-me a mim o dinheiro que gastam em bilhetes para a bola.

A punicao aos clubes cujos adeptos demonstram atitudes racistas deveria ser rapida e exemplar. Direito a multa e a jogar sem publico. Infelizmente, essas medidas, embora radicais e necessarias, nao acabam com o problema societal (leiam "How soccer explains the world"). Nazismo e racismo estao entranhados em certas bestas quadradas que nao conseguem evoluir. Resta-nos o principio de seleccao natural do Darwin para, aos poucos, deixarem de existir.