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Eusébio +10: A necessaria revolucao

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A necessaria revolucao

Como prometido, deixo aqui as minhas divagacoes sobre o que eu penso que poderia/deveria ser mudado no futebol portugues para que, de facto, se torne este jogo que nos consome num producto proveitoso em Portugal. Acima de tudo, para que o Benfica nao tenha que pedir o Keirrison emprestado ao Barcelona e que possa ir buscar os Keirrisons e os Ramires emergentes, competindo com os ditos ‘tubaroes europeus’.


*a saga dos espectadores *
e’ hoje ponto assente, por provas mais que dadas a nivel estatistico, que o unico clube que consegue levar mais de 20000 pessoas aos estadios e’ o SLB. Nao ha’ como disfarcar isso. Nem as propaladas ‘grandes jogadas’ dos corruptos no mercado de verao, desviando jogadores em transito para a Luz, faz com que mais adeptos se desloquem ‘a mata real ou ao Cabrao. O jogo de abertura do campeonato na Luz teve mais adeptos que a disputa do primeiro caneco oficial da epoca. E as desculpas de uma pre-epoca promissora do Glorioso nao servem. Porque em ano de Henrique das Flores tambem fomos o clube com mais adeptos na primeira jornada em casa. Esta’ bem que foi um SLB-FCPorco, mas demonstra bem quem e’ que vai aos estadios.

A solucao, claro esta’, e’ dificil de encontrar. Especialmente quando existem tantos interesses por tras. Mas como se explica que numa liga com 16 equipas se distribuam os jogos em 4 dias? Para que? Para o guimaraes-academica dar na sport tv? A minha preferencia era o adoptar de uma estrategia semelhante ao que se usa em Italia (espanha e inglaterra sao casos aparte devido ao numero de equipas envolvidas em cada liga e ao montante pago aos clubes por direitos televisivos). Ou seja: jogam TODOS ao domingo, ‘as 4 da tarde. Direitos televisivos? Sim, vendam-nos ‘a sport tv se quiserem. A parte que nao agrada aos grandes: para haver igualdade e nivelamento POR CIMA dos clubes, os direitos televisivos deveriam ser distribuidos igualmente por todas as equipas da 1a liga. Liga de honra? Se a liga de honra negoceia os seus direitos televisivos, deveria faze-lo de forma independente da 1a liga, e ai teria um bolo so’ seu para distribuir pelos clubes igualmente. Nao se percebe, no entanto, e’ como e’ que uma empresa so’ que detem todos os direitos televisivos e que faz tanto dinheiro com a venda dos pacotes aos assinantes paga quantias miseraveis aos clubes que, se nao existissem, ditariam o seu desaparecimento. Mas como a empresa e’ liderada por corruptos e afins, esta’ tudo bem e ninguem pergunta nada…


*emprestimos e tamanhos de plantel
um dos problemas que causa maior desigualdade entre grandes e pequenos tem a ver com o numero de jogadores que os clubes grandes tem em comparacao com os pequenos. Um plantel com 70 jogadores e’ impensavel, se todos forem jogadores seniores. Resultado? Toca de emprestar 45 destes jogadores a clubes da mesma liga, para que rodem a ritmo competitivo. Nao vejo mal no emprestimo, vejo mal no tamanho do plantel. Por norma, a liga deveria limitar o numero de jogadores seniores ao servico de um clube para 30 (numero redondo). Isto da’ uma media de 3 jogadores seniores (mais de 18 anos) por posicao, por clube (no proximo ponto discutirei os estrangeiros, calma). O que e’ que isto provocaria? Primeiro, os clubes grandes apenas manteriam nos planteis (assim esperava eu) os jogadores que sao mesmo fora de serie: Di Marias, Aimars, Lisandros, Moutinhos e por ai fora. Entao e os outros que sao igualmente bons? Pois os clubes teriam de (1) vender ou (2) dispensar. Mas nao podemos vender todos. Pois nao. Por isso cada clube (grande ou pequeno) poderia emprestar um maximo de 2 jogadores a outro clube do PAIS e nunca poderiam emprestar os 2 jogadores ao mesmo clube. Isto acabaria com o problema dos clubes ‘satelite’ que nao o sao oficialmente (o setubal a epoca passada tinha qualquer coisa como 5(!!!) jogadores emprestados pelo mesmo clube). A dispensa de jogadores implicaria que nao se cortariam as pernas a ninguem e que as novas contratacoes seriam muito mais cuidadosas, por forma a manter ou melhorar a qualidade do plantel.


*jogadores estrangeiros
chegamos entao aos estrangeiros. Um sistema que eu gosto neste particular e’ o ingles: ok, nao vamos por limites em quantos estrangeiros jogam em cada equipa (embora os clubes tenham de ter atencao em relacao aos padroes da UEFA para as respectivas competicoes). Mas nao vamos aceitar qualquer jogador estrangeiro (nao europeu, atencao – ainda estamos na uniao europeia e as leis de trabalho aplicam-se igualmente) no pais em deterimento de jogadores portugueses. Assim, so’ jogadores que tenham jogado nas respectivas seleccoes (dos sub-19 para a frente) poderiam assinar por clubes portugueses. Resultado: diminuicao de camionetas de brasileiros todos os anos para clubes como a naval ou o rio ave, aposta nos jogadores portugueses, enriquecimento do jogador portugues no plano nacional e internacional, aumentando o leque de opcoes LUSAS nos varios escaloes de seleccao. Sim, perderiamos jogadores como o beto, ou o alanzinho, ou o Adriano. Mas eles trouxeram assim tanto ao futebol nacional? Trouxeram mais que o Linz?

Acredito que passariamos uns 5 anos de reestruturacao, mas e’ uma reestruturacao necessaria para bem do futebol portugues e do futebolista portugues.


*tecnologias do seculo 21
por incrivel que pareca, ou talvez nao, a liga portuguesa nao tem visibilidade nenhuma. Nem a compra de aimar, saviola, javi Garcia, a existencia de moutinho, coentrao, dim aria, Miguel veloso, as exibicoes do lucho na champions, as conquistas e vitorias de equipas portuguesas nas competicoes europeias, faz com que os meios de comunicacao internacionais (BBC, ESPN, Fox Soccer Channel, Marca, As etc etc etc) se prendam ou tomem atencao ao que se passa em Portugal. Sim, o Manchester e o Chelsea sabem onde podem vir ‘as compras, mas nao ha’ mediatismo da liga, que atrairia novos e melhores patrocinadores, novos e melhores jogadores, novos e melhores tecnicos, novas e melhores exigencias. Fica tudo muito contente por termos a bola online, e o jogo, e o mais futebol, mas a liga em si e’ desconhecida. Portugal tornou-se, de certa forma, o pais de leste mais a ocidente, com as equipas estranhas com jogadores desconhecidos mas que todos gostam e querem mas que se esquecem assim que se sai do estadio. Nao se ve, por muito que se procure, camisolas do boavista, do pacos de Ferreira ou do braga. No entanto, encontram-se com facilidade camisolas do rayo vallecano, do siena, do rennes, ou do west brom. (Isto e’ um reflexo do que e’ o turismo em pottugal, ja’ agora, e de como o nome de Portugal – de autores a queijos, de cientistas a vinhos – so’ e’ transportado por quem emigra... Mas nao me vou alongar muito sobre este tema). Num mundo em que a tecnologia esta’ na ponta dos dedos, a liga portuguesa esta’ na idade da pedra e ainda nao conseguiram sequer encontrar fogo ou fazer uma roda! Quando cacarem o primeiro animal ja’ o futebol se joga no espaco, com klingons e outros seres de planetas distantes. E esta invisibilidade faz com que os clubes nao crescam, nao se tornem mais competitivos e depois saiam vergados das competicoes europeias sem Gloria.


*as competicoes europeias
o que me leva a um ultimo, breve ponto: as competicoes europeias. Todos os anos lemos sobre como estamos 2 pontos acima, 3 pontos abaixo no ranking, como a Russia nos pode passar ou a holanda se pode distanciar de nos. mas todos os anos insistimos em mandar clubes sem expressao (e sem treinadores ou jogadores de eleicao…) por essa europa for a ‘a espera de milagres. Este ano ainda as coisas nao comecaram e ja’ temos menos 2 equipas, com o zbordem a ficar hoje (provavelmente) pelo caminho. Ou seja, de 6, ficamos com 3 potenciais, embora o nacional (mais do que o benfica) ainda tenha de correr muito na Russia. O que perspectiva um resto de campanha europeia miseravel: 2 equipas (de 6) a pontuar. O que obriga os corruptos e o benfica a terem que ir o mais longe possivel nas respectivas provas para que o famoso ranking nos seja favoravel, porque no fim o que queremos mesmo e’ que o pacos de Ferreira va’ mais vezes ‘a europa fazer figura de corpo presente, para que possa trazer mais paletes de brasileiros, para que o campeonato se continue a nivelar por baixo. Porque isso de nivelar por cima da’ uma trabalheira…

I open the floor for discussion, como se diz por aqui.

10 comentários:

João Davim disse...

O SCP se for eliminado hoje da Liga dos Campeões, transita para a Liga Europa, não é eliminado das competições da UEFA, por isso ainda pode fazer mais pontos

Diogo disse...

joao, tens razao. esqueci-me desse pormenor. de qualquer maneira, e como seria de esperar, ficamos reduzidos a 3 equipas para pontuar. a epoca europeia do braga do ano passado foi um mero outlier num esquema que nao traz rendimento uefeiro das equipas mais pequenas...

Joao disse...

nao concordo com a questão dos estrangeiros... por e simplesmente não nos podemos comparar a inglaterra... iamos acabar por substituir as carradas de brasileiros por internacionais do Vietnam porque não temos dinheiro para mais. A solução para mim é muito mais simples. 3 jogadores não comunitários por plantel ponto final paragrafo. Uma solução um pouco mais ousada seria um número de estrangeiros igual ao número de jogadores provenientes das camadas jovens.

Diogo disse...

joao,
e' um bom ponto que levantas. fosse qual fosse o sistema, acho que tem de haver um controlo no numero de jogadores estrangeiros que jogam em cada equipa. mas depois tambem sabemos que os protocolos com os PALOP e cenas maradas entre a argentina, a espanha e a italia faz com que cada miudo, piriquito ou ave rara que vem da america do sul seja logo considerado comunitario... enfim...

Tiago disse...

Discordo em completo com o comentário acerca da limitação de estrangeiros. Choca-me inclusive o tom proferido.

Qual é o verdadeiro problema? É que pelo teu discurso parece-me q o problema são os brasileiros e os autocarros e camionetes de brasileiros.

Ou será q o problema é a falta de aposta nos jogadores nacionais? Fico confuso quando leio o teu post. Não é explicito.

Choca-me o tom e choca-me porque vivo no estrangeiro e ficaria extremamente desiludido se dissesem q vem cá para o nosso mercado de trabalho camionetes de portugueses. Tu não estás também no estrangeiro. Gostarias de ouvir isso na tua área de trabalho?

Para além disso o mercado inglês é dos que mais estrangeiros tem, pelo que o teu exemplo perde alguma da validade logo aí.

Tenho uma proposta que considero bastante mais eficaz e mais eficaz porque não visa negligenciar um povo propriamente como a tua. E que tal... se o estado cortasse nos impostos com os clubes que tivessem nos seus quadros jogadores da sua formação? Ou ainda e que tal se o Estado cobrasse impostos adicionais a quem não tivesse 5 jogadores da sua formação no seu plantel? Quando digo estado, digo liga etc... Cortes de impostos, apoios à formação de quem integrasse jogadores no seu plantel principal etc...

E um aparte. Jogadores da formação que para mim podiam ser brasileiros e até vir de autocarro.

Diogo disse...

tiago,

uma clarificacao: nao quero, de forma alguma, isolar brasileiros.

estou a ver que a questao dos estrangeiros foi mal escrita e leva a mas interpretacoes do que quero dizer.

tivese eu mais tempo e explicaria melhor o que quero dizer. mas concordo inteiramente que jogadores de formacao podem ser 'as resmas de estrangeiros (qualquer um dos grandes tem, se nao estou em erro, muitos miudos de todo o mundo na sua formacao). mas acho que a formacao e os seniores tem de ser bem distinguidos: porque e' que se contrata um roger se houver um joao coimbra ou um brezovacki da formacao que podem entrar no plantel? porque apostar no emprestimo do suazo quando temos o nelson oliveira? e por ai fora...

Nuno disse...

Diogo, alto post. Ando ha' tres dias a tentar ter tempo para comentar e nao esta' a correr bem.

Acerca da questao dos estrangeiros, eu acho que o Tiago esta' a levar isto noutro contexto. O problema nao sao os brasileiros, mas sao os brasileiros, os togoleses, os peruanos e os vietnamitas (por sugestao do Joao num dos comentarios) que nao valem a ponta de um corno partido e que so' calcam nos clubes da primeira liga porque quem os contrata ganha uns cacaus por baixo da mesa. Ou vao dizer-me que os passageiros das camionetas que o Nacional, a Naval, o Setubal, etc., etc., etc., sao todos melhores que os putos que andam por ai' a jogar 'a bola? Ou por exemplo, que o Paulo Almeida, ou o Beto, para focar a coisa no Benfica, ou algum daqueles 10 que o LFV trazia todos os anos, vale alguma coisa mais que um labrego portugues qualquer contratado a uma equipa da segunda divisao?

Nos estamos no estrangeiro, mas se eu estivesse aqui a fazer o que o pessoal de ca' sabe fazer, nunca me tinham deixado para ca' vir. Ou achas, Tiago, que se eu quisesse vir para aqui, ou para onde estive anteriormente, ser qualquer coisa que haja muita gente que faca, alguma vez tinha passado do visto de turista?

Ou outro exemplo: sera' que Portugal necessita MESMO de trolhas moldavos, tendo em conta que para ai' 20% da populacao portuguesa nao tem educacao/formacao para fazer mais nada? Eu acho que era mais nesta base que o Diogo estava a colocar a coisa.

Mas anyway, se o Messi e o Tevez e o gajo-que-actualmente-e-o-ponta-de-lanca-da-canarinha e que eu nao sei o nome porque sou bruto dos queixos e nao me tenho informado decentemente, quiserem vir para o Benfica, raios partam, nao quero saber. Os bons sao sempre bem-vindos. E' por isso que nos vamos para onde quisermos ir. ;)

Nuno disse...

Na parte das competicoes europeias: de facto e' lamentavel mandarmos para la' inuteis, como o Leixoes o ano passado. Mas o problema e': onde e' que se estabelece a fronteira? No fundo, o Benfica o ano passado tambem so' fez merda na UEFA... e' complicado... e' daquelas coisas que so' se resolvem com mudanca de mentalidade. Por exemplo, o Nacional ontem safou-se mas fez um jogo 'a antiga portuguesa - dez 'a baliza, e vamos la' ver o que se arranja. Esta e' a tactica costumeira das equipas portuguesas em jogos internacionais, e que resulta normalmente no tradicional leva-na-pa' e no discurso de "falta-nos experiencia internacional" (que e' outra coisa fantastica, tendo em conta que o futebol internacional tambem e' jogado num campo rectangular com duas balizas e onze macacos de cada lado). No dia em que as equipas portuguesas que forem 'a UEFA, por mais "pobres" que sejam (como eles gostam sempre de por tudo em termos de pobres-nos contra ricos-eles), tiverem uma estrategia de ter a bola, de ser competitivos, de maximizar as suas forcas e explorar as fraquezas dos adversarios, entao podemos mandar ate' a Naval ou o Olhanense. Sem mentalidade, nao vale a pena sequer o Benfica la' ir, como se viu o ano passado com os enrabancos pelos turcos, pelos ucranias, e pelos gregos.

Diogo disse...

nuno,

afinal foi bem entendido o que quis dizer. se o messi, o aguero, o ronaldinho, o ibrahimovic e o muntari forem contratados pela naval, retiro este post. mas a contratar etc-inhos, etc-menez, etc-ovics e fazer deles craques em deterimento do nelson oliveira, do fabio coentrao, do ruben amorim, do ruben lima, do romeu ribeiro, dos putos do zbordem, dos corruptos ou do belenenses e' que nao acho que esteja bem. se e' para elevar o futebol portugues, porque nao impor qualquer restricao em relacao 'a qualidade? como tu dizes, se houvesse um americano/a a fazer exactemente o que eu faco que quisesse viver em no frio de boston, seria eu a faze-lo, ou seria ele/a?

quanto 'a uefa: sim, e' dificil decidir quem fica fora. mas e' mesmo preciso mudar a mentalidade pequenina dos treinadores portugueses. algume duvida que o everton vem 'a luz discutir o jogo pelo jogo? alguem poe em causa a entrega do burnley amanha contra o chelsea? querem apostar que o burnley vai a londres jogar para ganhar? ca' so' se joga para ganhar nas ultimas 3 jornadas. ate' la' tentam todos fazer os habituais "30 pontos"... assim isto nao anda para a frente....

Tiago disse...

Se a questão é investir nos jogadores portugueses porque expô-la de forma a que o problema é a entrada de jogadores estrangeiros?

O problema é q é bastante mais sonante contratar uma promessa brasileira do q pegar no puto dos juniores. Tendo em conta esta situação acho que se deveriam sugerir medidas para lidar com o verdadeiro problema.

O João disse que simplesmente se iria proceder à substitução de uma nação por outra e tem razão. Por uma simples razão. Porque é mais exótico trazer uma jovem promessa internacional do que apostar numa jovem promessa do portimonense. O Pauleta é um paradigma dessa questão.

Outro ponto. Antes do acordo Bosman em que a entrada era limitada não me recordo (admito estar equivocado devido à minha tenra idade) de se apostar mais nos jogadores da formação. Se bloquear a entrada de estrangeiros é a solução será q nesses tempos o benfica apostava mais na sua formação?